Na vida real a gente tenta se controlar, mas quando tomamos ranço de alguém, basta ouvir a voz da pessoa que nossos olhos já começam a revirar, né? E depois que o ranço está instalado, aí então babou!
Mas e na literatura? Será que essa pinimba é parecida com a da vida real?
Quer saber o que eu descobri?
Beleza! Então para tudo que está fazendo e fica comigo por mais um minutinho.
Preciso confessar uma coisa, sei que é um clássico da literatura e blá-blá-blá, mas sou humana e, como tal, tenho lá meus defeitos. Hoje peço licença para expressar minha opinião a partir de algo que vivenciei nos últimos dias...
Essa semana eu estava lendo o livro Peter Pan com meu filho para uma atividade escolar e aí, na metade da história (que tem uma moral muito bacana), percebi que eu estava com implicância terrível em relação ao personagem principal, sua personalidade egoísta e a necessidade de nunca crescer, alheio a tudo e todos... A cada cena dele eu me via repuxando os lábios com desdém, impaciente...
Aí um pensamento me veio à mente:
Por que implicamos alguns personagens?
Na vida real a gente tenta se controlar, mas quando tomamos ranço de alguém, basta ouvir a voz da pessoa para nossos olhos já começam a revirar, né?
Depois que o ranço está instalado, aí babou! O negócio é tão sério que você inclusive pega ranço dos amigos que andam com gente que você tem ranço.
Se for ator/ atriz de filme ou de novela a gente fica bufando para todas as cenas em que ele aparece.
A gente toma pinimba até da forma de mastigar, escovar os dentes e o jeito de andar do infeliz. Tudo nele te irrita!
E, sendo super sincera (Deus me perdoe!), o jeito mais fácil de gostar de alguém é quando a gente descobre que temos um ranço em comum, não é verdade?
Mas e na literatura? Será que essa pinimba é parecida com a da vida real?
Você já interrompeu a leitura de um livro por que tomou implicância mortal com o personagem principal?
Pois é. Eu também.
Então hoje vim dividir com você alguns motivos que me fazem ter raiva de um personagem e, às vezes, perder a vontade de continuar a ler uma história. Veja se você se identifica com algum (ou vários!) deles:
1- Relacionamento abusivo:
Fala sério! Não posso achar normal livros onde o sujeito só maltrata, maltrata e maltrata a garota e ela acha isso supernormal e, quanto mais o dito cujo bate, mas a mulher fica apaixonada. Pior. Basta ele pedir desculpinhas no final que fica tudo bem. Ah, pera lá!
2- Traição:
Isso é uma questão pessoal, mas não curto muito esse lance de ficar traindo enquanto está com outra pessoa. Se existe um triângulo amoroso na trama e ninguém está com ninguém para valer é diferente, sei disso, mas ainda assim acredito que o autor deva dar algum ar de dignidade a essas cenas.
3- Casal que se apaixona perdidamente dois minutos depois de se conhecer:
Tem dó, né? Nos dias atuais fazer juras de amor e dizer que ama perdidamente no instante em que bate o olho nele(a) é chamar o leitor de idiota. Isso não só é irreal como deixa a gente com raiva porque, ainda que role atração — o que deixa a trama mais interessante — ninguém ama uma pessoa só de olhar para ela. Tem que haver uma química, interação e, óbvio, algum tempo para que o sentimento exista de verdade.
4- Mocinha de história fantástica que vira a “fodona” em 2 segundos ou que acredita em vampiros, lobisomens e zumbis em menos de 1 segundo.
A garota sem poderes treina apenas por alguns dias (e não anos!) e aí fica subitamente mais poderosa e mais forte que o melhor de todos os espadachins do lugar e que já treinam desde a tenra infância. Ou que aceita que seu vizinho gato do 702 é um vampiro da corte londrina do século XIX só porque ele disse que era (e ainda que seja!) em uma rápida conversa no elevador. Pera lá! Isso é uma ofensa ao intelecto do leitor!
5- Personagem principal mimizenta demais ou sem opinião própria.
Não estou dizendo que ela tem que ser uma chata e contestar tudo, não é isso. É questão de ter personalidade e bom senso, apesar de sabermos que personagem principal tem que fazer burrada mesmo senão a história perde a graça. Mas a fórmula da garota atrapalhada demais e do homem certinho demais também enche meu saco.
6- Casal que troca farpas por nada o tempo todo.
Uma implicância aqui outra ali é legal para dar tempero na história, aumenta a tensão para o clima de sedução, mas brigar o tempo todo ninguém aguenta, pelo amor de Deus! Sinceramente não sei como tem gente que adora isso. Deve ser algum lance masoquista e nesse caso acho que os dois precisam se tratar: o personagem da história e o leitor! Kkk (brincadeirinha! 😉)
Pois é...
Para mim, tempo é uma das coisas mais valiosas da vida.
Dinheiro se recupera. Tempo não.
Então dou muito valor ao meu assim como respeito o tempo dos meus leitores.
Prezo tanto por isso que edito meus livros várias vezes para enxugar tudo que posso. Acho que é por isso que às vezes pego ranço com alguma história quando vejo que o autor é prolixo demais e fica “enchendo linguiça”, colocando cenas e diálogos desnecessários que não agregam valor algum para a trama (e ainda a deixam mais lenta ou cansativa) só para o livro ficar maior.
Sim, existem várias obras que adoro em que pelo menos 30% de suas páginas podiam ter sido eliminadas e, sinceramente, não faria a menor falta. Respeito que existam pessoas que gostem do “quanto maior melhor” no quesito livros, mas o que venho observando atualmente é que o leitor está cada vez mais inteligente, exigente e, principalmente, com o tempo mais curto. O leitor cada dia mais dá valor ao escritor que conta uma boa história com um número justo de palavras e não apenas para tomar o seu tempo.
Bom, dito tudo isso, eu queria muito te perguntar:
Tem algum personagem e/ou história que te deixou com ranço danado?
Conta pra mim! Eu vou amar saber.
Beijos no coração e até a próxima,
Pepper
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