Ah, sim. Trata-se de um tema delicado... Mas antes de responder a essa pergunta, gostaria que me dissesse:
O que Orgulho e Preconceito e a trilogia Deusa de Sangue têm em comum?
Te deixei mais confuso(a) ainda?
Pois é. De relance pode parecer que esses livros não têm nada a ver um com o outro, que se tratam apenas de histórias ficcionais, mas o fato é que, essas tramas apaixonantes, assim como outras, trazem em seu cerne algo muito importante: levantar temas complicados da forma mais interessante possível; questões terríveis ou delicadas, assuntos que muitas vezes não queremos ou temos coragem de tocar e até, no pior dos casos, permanecemos tão cegos e anestesiados pela avalanche de atividades e informações no nosso dia a dia que nem notamos que estamos mergulhados até o pescoço neles.
É isso o que um livro de ficção que ultrapassa a barreira do tempo traz em suas entrelinhas: não apenas uma trama inesquecível, mas também questionamentos sobre todos tipo de assuntos.
E aí? Já descobriu o que os livros mencionados acima têm em comum???
Parabéns a quem respondeu que, cada um a seu jeito, eles trazem à tona os temas do Machismo e da Misoginia.
De forma resumida, Machismo é uma ideologia ou comportamento que valoriza a superioridade do homem em relação à mulher. Ele se manifesta através de atitudes sexistas, preconceituosas e discriminatórias, sustentando estereótipos de gênero que limitam o papel e a atuação das mulheres na sociedade, além de reforçar a masculinidade como sinônimo de força e poder.
Misoginia, por sua vez, é a aversão, desprezo ou preconceito contra mulheres simplesmente por serem mulheres. O termo descreve atitudes e comportamentos que denigrem, desvalorizam ou desumanizam o feminino, podendo se manifestar de forma verbal, física ou simbólica.
Ao contrário do machismo, que é uma crença na superioridade masculina, a misoginia envolve um ódio mais direto e explícito às mulheres.
E aí fica a questão, será que é sensato indicar livros que trabalham esse assunto para jovens?
Eu acredito que sim, assim como as pesquisadoras Emily. C. Auerbach, Katherine E. Gines e Sarah Turner entre muitas outras que examinaram como a literatura jovem adulta pode ser uma ferramenta para abordar temas de igualdade de gênero, machismo e misoginia.
É óbvio, entretanto, que isso deve ser feito de forma sensata e que haja um porquê de algum personagem agir de determinada maneira ou sofrer uma ação, um motivo real para o assunto ser abordado na trama ( e não simplesmente jogado na história para gerar murmurinho).
O ser humano precisa desde cedo compreender os valores do bem, mas mais do que isso, entender que dentro da dualidade entre o bem e o mal existe um número imenso de possibilidades nada belas que são "propositalmente" negligenciadas e jogadas para debaixo do tapete da hipocrisia da sociedade, compreender que somos massa de vida sendo diariamente moldados por tudo aquilo que não apenas vivenciamos, mas que também pelo aprendemos através do estudo e, esteja certo, do acesso a bons livros.
Com esse tópico em mente, resolvi fazer uma lista de 10 livros de ficção (atuais e clássicos) que, cada um a seu estilo, abordam os temas do machismo e da misoginia de uma forma impecável, explorando as relações de poder e opressão entre homens e mulheres ao longo da história. Todos nos fazem refletir sobre o tema. Se eu fosse você, eu conferiria essas histórias incríveis o mais rápido possível:
1. "Orgulho e Preconceito" - Jane Austen
Publicado em 1813, este clássico da literatura inglesa é uma crítica sutil à sociedade patriarcal da época. Jane Austen questiona as expectativas impostas às mulheres, como a busca por casamentos vantajosos, e destaca a força das protagonistas que desafiam as normas sociais, apesar das pressões machistas.
2. "Deusa de Sangue" - FML Pepper
. A trilogia aborda questões ligadas ao machismo e à luta feminina no contexto da fantasia e do romance ("romantasia"). Nessa obra, a personagens feminina é forte e, lutando contra tudo e todos, enfrenta não apenas desafios sobrenaturais, mas também estruturas patriarcais e injustiças que refletem a misoginia do mundo real enquanto trava uma batalha contra o próprio coração. A história consegue trazer esse tema assim como vários outros para o universo da fantasia juvenil de forma cativante e relevante.
3. Morro dos Ventos Uivantes" - Emily Brontë
Publicado em 1847, este romance gótico mostra as dinâmicas destrutivas de poder e controle, especialmente entre os personagens masculinos e femininos. O comportamento abusivo de Heathcliff reflete as normas patriarcais da época, tornando o livro um estudo da opressão e desigualdade de gênero.
4. "As Mil e Uma Noites" - Antoine Gallanda
Não tem um autor único, pois é uma coleção de contos populares do Oriente Médio e da Ásia do Sul, que foram reunidos e traduzidos ao longo dos séculos. A primeira versão conhecida da coleção foi traduzida para o francês pelo orientalista Antoine Galland no início do século XVIII e apresenta a famosa história de Sherazade, que usa sua inteligência e narrativa para escapar da execução em um reino misógino. Embora repleto de tradições e fantasias, o texto também questiona o poder masculino e valoriza a astúcia feminina.
5. "Madame Bovary" - Gustave Flaubert
Publicado em 1857, o romance de Flaubert trata da insatisfação de uma mulher presa nas normas da sociedade patriarcal francesa. Emma Bovary busca escapar dos papéis tradicionais de esposa e mãe, mas sua tentativa de romper com essas restrições reflete os impactos do machismo em sua vida.
6. "A Letra Escarlate" - Nathaniel Hawthorne
Publicado em 1850, este romance clássico americano narra a história de Hester Prynne, uma mulher que é publicamente humilhada e marginalizada por cometer adultério. A obra explora o julgamento moral e a hipocrisia de uma sociedade patriarcal, ao mesmo tempo em que Hester se mantém forte em face à opressão.
7. "O Conto da Aia" - Margaret Atwood
Embora seja mais conhecido como uma distopia para adultos, o livro também é amplamente lido por jovens adultos. Ele explora uma sociedade onde as mulheres são oprimidas e tratadas como propriedade, evidenciando os efeitos do machismo extremo e da misoginia institucionalizada.
8. "As Bruxas de Salem" - Arthur Miller
Este livro reflete o controle social sobre as mulheres durante os julgamentos de Salem, mas também pode ser visto como uma crítica às atitudes misóginas que buscam oprimir e silenciar as mulheres acusando-as de bruxaria.
9. "O Ódio Que Você Semeia" - Angie Thomas
Embora o foco principal seja o racismo, o livro também toca em questões de gênero, abordando o machismo que a protagonista e outras mulheres enfrentam em sua comunidade. A história explora como o preconceito racial e de gênero se entrelaçam.
10. "Objetos Cortantes" - Gillian Flynn
Embora seja um thriller psicológico voltado mais para adultos, muitos jovens adultos leem esse livro. Ele explora como o machismo e a misoginia podem afetar as mulheres em uma pequena cidade conservadora, através das experiências da protagonista Camille.
Se achou esse post útil, compartilhe com os amigo(a)s. Falar sobre esse assunto é fundamental e o primeiro passo para lutar contra, um tabu que temos que jogar por terra abaixo.
Mil beijocas e até a próxima,
Pepper.
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